

Figuras de 2.400 anos encontradas em sítio arqueológico eram usadas em rituais – Foto: J. Przedwojewska-Szymańska/PASI/ND
Cinco figuras de cerâmica datadas de mais de 2.400 anos foram descobertas no sítio arqueológico de San Isidro, em Izalco, El Salvador. Encontradas no maior monte da área, elas estavam dispostas de forma peculiar, sugerindo um possível uso ritualístico antes de serem guardadas.
A descoberta foi feita por uma equipe de especialistas da Universidade de Varsóvia, liderada pelos arqueólogos Jan Szymański e Gabriela Prejs, e publicada nas revistas Antiquity e Science.
A descoberta no sítio arqueológico de El Salvador
As peças pertencem ao estilo Bolinas e são apenas o segundo conjunto desse tipo encontrado em boas condições. O primeiro havia sido descoberto em 2012 no sítio maia de Tak’alik Ab’aj, na Guatemala.
O que mais impressionou os pesquisadores foi a riqueza dos detalhes, especialmente as expressões faciais das figuras. “Quando você as segura, parecem quase se mover dependendo do ângulo da luz. Às vezes, chegam a ser assustadoras”, disse Szymański à Science.
Três das figuras estavam viradas para cima, enquanto as outras duas foram encontradas de cabeça para baixo. A maioria estava orientada para o oeste, direção associada ao mundo dos mortos nas culturas mesoamericanas.

Sítio arqueológico fica em El Salvador – Foto: J. Przedwojewska-Szymańska/PASI/ND
Esse posicionamento, aliado ao fato de terem sido enterradas no monte mais proeminente do sítio, reforça a hipótese de que eram utilizadas em rituais públicos e não apenas como brinquedos ou objetos decorativos.
Outra característica intrigante é que três das figuras possuem cabeças removíveis com pequenos orifícios no pescoço e no crânio. Segundo os pesquisadores, esses detalhes indicam que poderiam ter sido manipuladas como marionetes, simulando movimentos de fala ou canto em cerimônias.
“Elas podem ter sido usadas em diferentes apresentações antes de serem finalmente depositadas em um local especial”, acrescentou o arqueólogo.
Descoberta coloca El Salvador na rota dos rituais da antiguidade
Diferente das figuras encontradas na Guatemala, que estavam adornadas com joias e vestimentas, as de San Isidro são nuas e sem ornamentos.
No entanto, os dois menores possuem tufos de cabelo gravados na argila e marcas nos lóbulos das orelhas, sugerindo que poderiam ter sido vestidas com materiais perecíveis, como tecidos ou penas, que não resistiram ao tempo.

Descoberta revelou que El Salvador não estava isolada – Foto: J. Przedwojewska-Szymańska/PASI/ND
Além do valor artístico e religioso, a descoberta reforça a ideia de que San Isidro fazia parte de redes culturais e comerciais que se estendiam por toda a Mesoamérica.
“Isso contradiz a visão de que El Salvador estava isolado na antiguidade. Pelo contrário, mostra que havia comunidades ativas, trocando ideias e tradições com regiões distantes”, afirmou Szymański.
O sítio arqueológico de San Isidro foi identificado na década de 1980, mas passou por poucas investigações desde então. Apenas em 2019 os pesquisadores iniciaram escavações mais detalhadas, confirmando que o local foi habitado entre os períodos Pré-clássico Médio (1200-400 a.C.) e Pré-clássico Tardio (400 a.C.-200 d.C.).
Estudos indicam que a área, que se estende por mais de três quilômetros quadrados, possivelmente servia como um centro cerimonial. No entanto, ainda não há evidências definitivas que comprovem se o assentamento tinha origem maia.
A descoberta das figuras rituais adiciona um novo capítulo à história da região e abre caminho para mais pesquisas sobre a complexa rede de interações culturais na Mesoamérica antiga.