DeepSeek: chip mais barato, autocensura, ‘ameaça’ aos EUA… veja perguntas e respostas sobre a IA chinesa


Rival do ChatGPT ganhou atenção mundial após fazer gigantes de tecnologia perderem US$ 1 trilhão na bolsa e ultrapassar o ChatGPT em número de downloads nos EUA. Por que a IA chinesa DeepSeek é apontada como ameaça ao protagonismo dos EUA?
O assistente de inteligência artificial chinês DeepSeek virou assunto da semana depois de fazer gigantes de tecnologia perderem US$ 1 trilhão na bolsa de Nova York e ultrapassar o rival americano ChatGPT em número de downloads nos EUA.
O robô conversador (chatbot) chinês se apresentou como uma alternativa mais barata do que os modelos de inteligência artificial mais famosos do mundo e colocou xeque a liderança dos EUA no tema. Veja abaixo perguntas e respostas sobre o DeepSeek.
O que é o DeepSeek
Por que essa IA está sendo tão falada?
O DeepSeek ameaça os EUA?
O DeepSeek é melhor que o ChatGPT?
O DeepSeek tem ‘autocensura’?
O DeepSeek é grátis? Fala português?
O DeepSeek custou menos do que os outros?
O DeepSeek é de código aberto? O que isso significa?
Quem criou o DeepSeek?
O que é o DeepSeek?
O DeepSeek, assim como o ChatGPT e o Copilot, é um aplicativo de inteligência artificial generativa, ou seja, que tem a capacidade de “conversar” com os usuários.
Assistentes como esses são treinados com muitos dados que já estão disponíveis na internet para entender e gerar respostas coerentes. Quanto mais eles interagem, mais “afiados” ficam.
Esses aplicativos, também conhecidos como chatbots (robôs conversadores), podem realizar várias tarefas, como escrever um parágrafo sobre qualquer tema, criar uma lista de compras ou fazer um orçamento financeiro.
Por que essa IA está sendo tão falada?
A versão mais recente do DeepSeek foi lançada ao público no dia da posse de Donald Trump, em 20 de janeiro.
Na última segunda-feira (27), o aplicativo superou o ChatGPT e assumiu a liderança entre os mais baixados na loja de aplicativos da Apple, nos EUA, e apareceu entre os principais na Play Store, do Google.
No mesmo dia, ações de “big techs” caíram na bolsa de Nova York, e as empresas perderam, em conjunto, US$ 1 trilhão em valor de mercado.
O “efeito DeepSeek” foi tão forte que fez analistas e investidores classificarem a novidade chinesa como um “momento Sputinik”, em referência ao lançamento do satélite soviético em 1957, que pegou os americanos de surpresa e deu origem à corrida espacial durante a Guerra Fria.
Parte do que preocupa observadores da indústria de tecnologia dos EUA e os investidores é a ideia de que a startup chinesa esteja emparelhando com empresas americanas na corrida pelo domínio da inteligência artificial, só que com gastos bem menores.
E essa nova corrida vai muito além da tecnologia. Afinal, o domínio sobre a inteligência artificial é considerado um poder. “Estamos falando de uma tecnologia generalista que tem se apresentado como o grande combustível da nova Revolução Industrial”, diz Anderson Soares, coordenador Centro de Excelência em IA da Universidade Federal de Goiás.
“Ela está presente em todos os eletrônicos usados hoje e dominá-la significa ter produtos melhores e mais baratos e, consequentemente, ter mais poder e influência”, completa.
O DeepSeek ameaça os EUA?
O crescimento do DeepSeek coloca em xeque a ideia de que os EUA vão manter sua liderança global por meio da infraestrutura de inteligência artificial, afirma o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Álvaro Machado Dias.
A possibilidade dos EUA perderem a liderança no domínio da IA para a China pode ter consequências geopolíticas relevantes, completa Anderson Soares, da Universidade Federal de Goiás.
A China ter conseguido produzir modelos de inteligência generativa avançados com menos recursos pode contribuir, inclusive, com a expansão desse mercado para além das duas potências, destaca Evandro Barros, fundador da Data-H, empresa de tecnologia com base no Canadá.
Um dia depois da queda das ações das “big techs”, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que os EUA analisam possíveis implicações do DeepSeek para segurança nacional.
Congressistas americanos usaram esta motivação para aprovar uma lei que exige que o app chinês TikTok venda sua operação nos EUA para continuar funcionando no país. O prazo para que isso acontecesse venceu na véspera da posse de Trump, que deu mais tempo para a rede social.
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O DeepSeek é melhor que o ChatGPT?
Especialistas ouvidos pelo g1 destacam que o DeepSeek oferece, em sua versão mais recente, uma experiência bastante parecida com a mais atual do ChatGPT.
“A Open IA, dona do ChatGPT, quer lançar a versão 3 este trimestre, mas, pelo menos até lá, eles [DeepSeek e ChatGPT] estão em pé de igualdade”, destaca Anderson Soares, coordenador Centro de Excelência em IA da Universidade Federal de Goiás (CEIA-UFG).
A capacidade do chatbot chinês de resolver problemas matemáticos difíceis e outras questões técnicas tem sido elogiada.
“O que constatamos é que o DeepSeek […] é o melhor, ou está no nível dos melhores modelos americanos”, disse à emissora CNBC Alexandr Wang, da empresa americana Scale AI, fornecedora de treinamento de inteligência artificial para gigantes como OpenAI, Google e Meta.
Uma diferença para os principais rivais é que a IA chinesa mostra para o usuário como está “pensando” antes de responder; veja no exemplo abaixo.
IA chinesa mostra ao usuário como está ‘pensando’ antes de responder
Por outro lado, o próprio DeepSeek diz que seus dados estão atualizados só até julho de 2024.
No entanto, diferente das versões mais recentes dos chatbots norte-americanos, o DeepSeek-R1, não consegue extrair informações de imagens e raciocinar em cima delas, destaca Carlos Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio).
O DeepSeek tem ‘autocensura’?
Ao menos nos primeiros dias desde o lançamento da versão mais recente, em 20 de janeiro, o DeepSeek tende a fazer autocensura quando questionado sobre temas políticos sensíveis à China.
Em teste realizado pelo g1, o assistente não respondeu se a China está em um regime de democracia, o que é Taiwan e o que foi o Massacre da Praça da Paz Celestial, episódio de repressão na capital Pequim, em 1989.
Nos três casos, o robô começou a escrever a conversa, mas voltou atrás, apagando o conteúdo e se limitando a apresentar a seguinte mensagem: “Desculpe, isso está além do meu escopo atual. Vamos falar de outra coisa”.
Outros serviços também podem limitar respostas sobre política. O Gemini, do Google, disse que não pode ajudar com “respostas sobre eleições e personalidades políticas” ao ser questionado sobre a condenação de Donald Trump na Justiça dos EUA, em julho de 2024.
DeepSeek se autocensura em pergunta sobre Massacre da Praça da Paz Celestial
Reprodução/DeepSeek
O DeepSeek é grátis? Fala português?
O aplicativo é gratuito e pode ser baixado nas lojas de apps do Google e da Apple. E, sim, ele “entende” português e lista a língua entre as principais que consegue processar.
O “raciocínio” do DeepSeek (quando ele mostra como esta “pensando”) só aparece em inglês.
O DeepSeek custou menos do que os outros?
Os pesquisadores do DeepSeek dizem que o investimento usado para treinar a versão atual do chatbot foi de US$ 6 milhões (cerca de R$ 35 milhões) frente às centenas de milhões de dólares gastos por empresas americanas.
A OpenAI, por exemplo, teria gasto US$ 100 milhões para a versão atual do ChatGPT, segundo a Wired. A Forbes apontou que o Google gastou quase o dobro disso com o Gemini.
Além disso, engenheiros da DeepSeek diz que usou apenas 2 mil chips para realizar a mesma tarefa, de acordo com o jornal The New York Times. Gigantes do setor treinam seus robôs de IA com supercomputadores que usam cerca de 16 mil chips.
Os chineses também tiveram que buscar alternativas por não terem à disposição os chips mais avançados para IA, ao contrário de empresas como a Meta e da OpenAI, criadora do ChatGPT.
Isso porque os EUA proibiram as fabricantes americanas de fornecerem equipamentos de ponta para a China, acreditando que isso atrapalharia a evolução da tecnologia no país asiático.
Mas a reviravolta com o lançamento do DeepSeek, com desempenho parelho ao de rivais e um custo supostamente muito inferior, fez investidores questionarem a sustentabilidade de gastos no setor. Daí as perdas na bolsa de valores, que se concentraram sobre as big techs.
Alguns analistas, no entanto, questionam se o valor descrito pela startup chinesa para treinar seu chatbot faz sentido.
“Parece algo forçado, para dizer que as inovações lançadas pela DeepSeek são completamente desconhecidas pelos maiores pesquisadores de outros inúmeros laboratórios do setor em todo o mundo”, disse Stacy Rasgon, da consultoria Bernstein, que acompanha a indústria dos chips, à Reuters.
Outros apontam que esse custo não seria sustentável se houvesse uma expansão do chatbot, já que a IA requer altos gastos de infraestrutura, incluindo a demanda de energia para datacenters (as centrais onde os dados ficam armazenados).
Veja o que bilionários e empresas de tecnologia disseram sobre o DeepSeek ou o mercado de inteligência artificial
O DeepSeek é de código aberto? O que isso significa?
O DeepSeek usa um modelo de inteligência artificial com código aberto.
➡️ Código é a forma como uma página na internet, um aplicativo e outros produtos virtuais são programados. É um conjunto de ordens que determina o visual e as funcionalidades desses produtos.
Deixar o código aberto (“open source”, em inglês) significa que outros desenvolvedores podem ter acesso à programação daquele aplicativo ou site, e poderão aplicá-la em outros produtos e adaptar esse código às suas necessidades.
Isso não é comum para empresas comerciais, mas tem sido mais praticado no setor de IA. A OpenAI mantém abertos os códigos de modelos mais antigos (GPT-2 e GPT-3, por exemplo), enquanto a Meta (dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp) faz isso com o Llama, seu modelo de inteligência artificial.
Abrir o código faz com que mais gente tenha acesso a ele e, consequentemente, possa produzir melhorias, tornando o seu desenvolvimento mais rápido e barato, segundo Anderson Soares, da Universidade Federal de Goiás.
“O Deep Seek provavelmente também tem uma versão com código fechado, que, possivelmente, é melhor ainda, mas ainda não está disponível”, disse o coordenador do CEIA-UFG.
Quem criou o DeepSeek?
O DeepSeek foi fundado em 2023 por Liang Wenfeng em Hangzhou, uma cidade no sudeste da China conhecida pela alta concentração de empresas de tecnologia.
O engenheiro eletrônico de 40 anos também fundou o High-Flyer, um fundo de hedge (estratégias de investimentos), que financiou o DeepSeek.
O High-Flyer tem um escritório localizado no mesmo prédio que o DeepSeek e possui patentes relacionadas a tecnologia de chips usados ​​para treinar modelos de IA, segundo a Reuters.
Liang manteve um perfil bastante discreto até 20 de janeiro, quando foi um dos nove convidados a fazer um discurso em um simpósio a portas fechadas organizado pelo primeiro-ministro chinês, Li Qiang, destaca a Reuters.
O DeepSeek consegue se comunicar em vários idiomas, incluindo o português, mas — segundo a empresa explicou à AFP — domina mais o inglês e o chinês.
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