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As taturanas, comumente chamadas de “bicho que queima”, tendem a aparecer com mais frequência durante o verão, aumentando o risco de acidentes. A lagarta Lonomia oblíqua possui uma toxina altamente venenosa e, se tocada, causa queimaduras que podem evoluir para um quadro mais grave.
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Quais cuidados devem ser tomados com o ‘bicho que queima’ durante o verão? – Foto: Divulgação/Instituto Butantan/ND
Segundo dados do Ministério da Saúde, dos 26.941 acidentes com lagartas registrados no Brasil entre 2019 e 2023, 20% envolveram crianças de até 9 anos.
A hipótese é que o período de calor favorece o contato com a espécie, período em que acontece as férias escolares e os pequenos tem mais tempo livre. Nesta mesma época, também aumenta a população dos insetos em estágio larval.
De acordo com a diretora de produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen, neste período, é importante reforçar a atenção em relação ao “bicho que queima”.
“Elas costumam viver aglomeradas nas árvores e a coloração se confunde com o tronco, o que dificulta a visualização”, explicou.
Conforme dados do sistema DATASUS, o Sudeste é a região com maior notificação de casos (2.110), seguido do Nordeste (746) e o Sul (733). O estado com maior número de ocorrências é Minas Gerais (1.199), seguido de São Paulo (818), Santa Catarina (342) e Rio Grande do Sul (329).
Lagartas podem causar acidentes graves durante o verão
Conforme o instituto, as lagartas são o estágio larval dos insetos pertencentes à ordem dos lepidópteros, que posteriormente vão se transformar em mariposas ou borboletas.
No geral, aquelas com potencial para causar acidentes dividem-se em duas grandes famílias: Megalopygedae e Saturniidae. A Megalopygedae engloba as chamadas “cabeludas”.
Os longos e sedosos pelos da Megalopygedae são inofensivos, contudo, escondem cerdas pontiagudas capazes de provocar dor persistente, queimação e irritação na pele.
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Megalopygedae , a lagarta-cachorrinho, pode provocar reações alérgicas em contato com o ser humano – Agostinho Jantsch/Arquivo pessoal/ND
Já a família Saturniidae compreende as “espinhudas”. Conforme especialistas, o grupo inclui as lagartas do gênero Lonomia, que possuem maior relevância médica por poder ocasionar acidentes graves e até a morte.
Com coloração marrom-esverdeada, o animal conta com diversos espinhos verde-claros que lembram o formato de pequenos pinheiros, e é por meio deles que inoculam seu potente veneno.
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Saturniidae possui diversos espinhos espalhados pelo corpo – Foto: Divulgação/Instituto Butantan/ND
Quais cuidados devem ser tomados com o ‘bicho que queima’ durante o verão?
Prevenção
- Manter atenção ao ficar perto de troncos de árvores ou ter contato com a grama;
- Observar se há folhas roídas em plantas ou árvores próximas;
- Observar pupas e fezes no chão, embaixo das árvores;
- Usar roupas que cubram todo o corpo durante atividades na área rural;
- Pintar parte do troco das árvores com cal, para perceber mais facilmente a presença de lagartas.
Cuidados
- Quando possível, levar a lagarta para avaliação junto com o paciente afetado, por meio da coleta com cuidado, sempre utilizado luvas grossas ou pinças;
- Identificar o animal, por meio de registro fotográfico;
- Avisar o sistema de epidemiologia da cidade ou setor de vigilância sanitária ao identificar a presença desses animais em áreas urbanas ou movimentadas.
Atenção aos sintomas
Caso ter contato com os espinhos do “bicho que queima”, o paciente sentira uma dor, seguida de uma queimação. A região afetada apresentará vermelhidão, inchaço e calor local.
Após o acidente, a pessoa afetada pode sentir mal-estar, cefaleia, náusea e vômito.
Em casos mais graves, caso não procure atendimento médico, a pessoa poderá manifestar hemorragia de 8 a 72 horas após o acidente, com os seguintes sintomas: manchas escuras pelo corpo, sangramento no nariz, gengivas, urina e ferimentos recentes.
Os casos sem atendimento podem evoluir para insuficiência renal aguda e até mesmo levar à morte.
Soro antilonômico é produzido apenas pelo instituto brasileiro
O Instituto Butantan é o único produtor mundial do soro específico para o tratamento dos envenenamentos moderados e graves causados por lagartas do gênero Lonomia.
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Processo do corte dos espinhos da Lonomia, famoso “bicho que queima”, para a produção do soro antilonômico – Foto: Divulgação/Instituto Butantan/ND
O soro é disponibilizado gratuitamente em todo o território brasileiro pelo SUS (Sistema Único de Saúde), desde 1996. O imunobiológico também já ajudou a salvar vidas no Peru, Colômbia, Argentina, Uruguai e Guiana Francesa, conforme o próprio instituto.
O estudo iniciou no final da década de 1980, após um aumento no número de acidentes graves registrados em Passo Fundo (RS) e Chapecó (SC). O soro desenvolvido por pesquisadores do instituto é capaz de reverter os sinais e sintomas do envenenamento por Lonomia.