Biden é obrigado a ir à posse de Trump? Relembre quando a tradição foi quebrada

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tomará posse no dia 20 de janeiro, em uma cerimônia que deve reunir figuras importantes da política americana. A adversária de Trump na disputa de 2024, Kamala Harris, estará presente enquanto vice-presidente da atual administração.

O presidente Joe Biden também confirmou que vai comparecer, apesar de Trump não ter participado da posse do democrata em 2021. A presença do incumbente não é obrigatória, mas é uma longa tradição na transição de poder dos Estados Unidos.

Essa tradição foi quebrada apenas quatro vezes na história da política americana. Confira:

 

 

John Adams (1801)

 

A eleição de 1800 foi uma das mais amargas da história do país. O incumbente John Adams buscou um segundo mandato, mas enfrentou um poderoso desafio de seu próprio vice-presidente, Thomas Jefferson. Pior ainda para Adams, a opinião popular voltou-se contra a sua defesa das Leis de Estrangeiros e Sedição de 1798, que restringiam as atividades de cidadãos estrangeiros e limitavam a liberdade de expressão e de imprensa.

O processo de votação em si foi igualmente complicado. Antes da aprovação da Décima Segunda Emenda em 1803, que regularizou o processo de seleção, os delegados votavam não em uma única chapa, mas duas vezes em indivíduos. O mais votado ganhava a presidência, e o segundo lugar, a vice-presidência.

O resultado foi um empate entre Jefferson e seu companheiro de chapa Aaron Burr, o que significou que a decisão passou para a Câmara dos Deputados. As relações entre Adams e Jefferson permaneceram bastante cordiais. Jefferson jantou amigavelmente com John e Abigail Adams na Casa Branca naquele mês de janeiro.

Uma reconciliação seria possível? “Senhor, o evento da eleição está sob seu próprio poder”, implorou Jefferson a Adams no início de fevereiro. Mas Adams recusou-se a interferir na votação da Câmara. Depois de mais de 30 votações, a Câmara dos Deputados finalmente decidiu a favor de Jefferson.

Adams optou por não comparecer à posse de seu sucessor, partindo da capital do país às 4 da manhã do dia 4 de março de 1801. Ao evitar a posse de Jefferson, Adams talvez tenha sido motivado pelo desejo de esfriar a temperatura política na capital.

A transferência pacífica de poder de Adams para Jefferson foi ironicamente apelidada de “Revolução de 1800”. Depois de fazer um discurso inaugural conciliatório, Jefferson iniciou a tradição de marchar do Capitólio à Casa Branca. Ele cumpriu dois mandatos.

John Quincy Adams (1829)

John Quincy Adams seguiu os passos de seu pai de várias maneiras. Como secretário de Estado do presidente que se aposentava, James Monroe, ele procurou obter a presidência por direito em 1824. Mas enfrentou vários adversários, inclusive Andrew Jackson e Henry Clay.

Jackson representava a ameaça mais séria. Quincy Adams já havia sido um aliado político de Jackson, mas a relação esfriou consideravelmente quando os dois disputaram em 1824.

Jackson obteve o maior número de votos populares e eleitorais, mas não conquistou maioria em nenhum dos dois. Com a eleição em jogo, os delegados de Clay mudaram seu apoio para Adams, e a Câmara dos Deputados votou para Adams como próximo presidente. Jackson declarou que havia ocorrido uma “negociação corrupta” e prometeu concorrer novamente em 1828.

A eleição de 1828 contou com uma revanche contenciosa entre os dois homens, com Jackson emergindo como o vencedor desta vez. Quincy Adams tentou relações cordiais com o novo presidente, embora sem sucesso. Ele ofereceu o uso da Casa Branca para as festividades inaugurais, mas Jackson recusou a proposta.

Em vez disso, Quincy Adams deixou a Casa Branca na noite de 3 de março, um dia antes da posse de Jackson. Tal como o seu pai, ele optou propositadamente por não comparecer à posse do seu sucessor.

Andrew Johnson (1869)

O vice-presidente Andrew Johnson assumiu a presidência após o assassinato de Abraham Lincoln em 1865. Por sua vez, o novo presidente comprometeu-se a obstruir a vontade do Congresso Republicano a cada passo. Apesar dos apelos populares, ele não conseguiu garantir a nomeação pelo Partido Republicano para presidente em 1868 e foi até cassado pela Câmara dos Deputados.

Em novembro de 1868, o país elegeu o general Ulysses S. Grant, inimigo de Johnson, para a presidência por uma ampla margem de votos eleitorais. Na votação popular, Grant venceu por 300 mil votos, graças a quase meio milhão de libertos nos estados do Sul.

Apesar da vitória de Grant no Colégio Eleitoral, Johnson se recusou a comparecer à posse em 4 de março. Em vez disso, permaneceu na Casa Branca para assinar leis. Da mesma forma, Grant rejeitou a ideia de viajar na mesma carruagem que Johnson.

A administração Grant foi marcada por sua política de apoio vigoroso à Reconstrução no Sul. Ele foi eleito em 1872 para um segundo mandato como presidente. Com exceção dos dois mandatos de Grover Cleveland, os republicanos dominaram a Casa Branca até 1913.

Donald Trump (2021)


Trump questionou a credibilidade dos resultados de 2020 e seus apoiadores invadiram o Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021. • REUTERS

Próximo do fim de seu mandato, o então presidente americano, Donald Trump, anunciou em suas redes sociais que não compareceria à cerimônia de posse de Joe Biden em 20 de janeiro de 2021.

Na manhã de 6 de janeiro daquele ano, Trump fez um discurso inflamado aos seus apoiadores no National Mall, onde repreendeu publicamente o então vice-presidente Mike Pence por não concordar com seu esquema de rejeitar os votos eleitorais recebidos Joe Biden.

O democrata havia derrotado o republicano nas eleições presidenciais de 2020, mas Trump não reconheceu o resultado e afirma até hoje, sem provas, que houve fraude.

Antes mesmo do discurso acabar no National Mall, os apoiadores de Trump começaram a forçar as barreiras policiais e invadir o Capitólio, principal símbolo do poder político no país, na capital Washington, DC. Eles atacaram policiais que faziam a segurança e ameaçavam enforcar Mike Pence.

Em meio ao caos, a sessão conjunta do Congresso que confirmaria a vitória de Biden foi interrompida. Parlamentares tiveram que sair às pressas por causa do alto risco de violência.

Enquanto isso, apoiadores de Trump destruíam os gabinetes dos parlamentares, incluindo o da presidente da Câmara na época, a democrata Nancy Pelosi.

Trump esperou horas até fazer uma declaração pública para pedir o fim dos ataques.

A sessão do Congresso que certificou a vitória de Joe Biden foi retomada no dia 7 janeiro, e o presidente tomou posse no dia 20. A cerimônia de posse de Biden foi reduzida por causa das medidas de isolamento contra a pandemia de Covid-19 e da preocupação das autoridades com a segurança em Washington.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Biden é obrigado a ir à posse de Trump? Relembre quando a tradição foi quebrada no site CNN Brasil.

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